O que está a acontecer hoje na Caparica reflecte a acumulação de erros ambientais levados a cabo ao longo de décadas.
Os nossos pais (os viviam por aqui à 50 – 60 anos) têm ainda viva a memória do facto se poder ir até ao farol do Bugio a pé. Esse banco de areia, existente desde sempre (ver cartografia antiga) e permitia por via das correntes acumular areia que era depois redistribuída (também devido às correntes existentes) por todas as praias da Costa da Caparica até ao Cabo Espichel.
Com a construção do porto de Lisboa e Lisnave e a necessidade de permitir a passagem de embarcações de elevado porte foi retirada directa e indirectamente (através da dragagem do rio) toda essa areia (o chamado Bico da Areia) o que teve implicações logo na alteração da Cova do Vapor e na necessidade de transladação de um conjunto de habitações de pescadores daí para a Costa da Caparica (Essas casas acabaram por ser demolidas quando o Macário Correia foi Secretário de Estado do Ambiente).
As consequências também se fizeram sentir na Costa da Caparica ainda na década de 70 com a invasão da Costa pelo mar e que teve como consequência a construção da actual muralha e dos quebra-mar (Desta eu tenho memória). Com estes pontões quebra-mar voltaram a cometer-se erros:
- Dizem os entendidos que o seu número é exagerado e impede a acumulação de areias.
- A praia do Norte (na Cova do Vapor) tem vindo ao longo dos anos a acumular areia enquanto a praia do lado (praia de S.João e parques e de campismo) acabou de desaparecer. Curioso não?
- As praias (?) da Costa já nem na maré vazia têm areia.
- Actualmente na maré-cheia (praia-mar para os preciosistas), se estivermos sobre a muralha verifica-se (a olho nu, nem é preciso fita métrica nem ser professor catedrático, génio da lâmpada, primeiro ministro ou dirigente da oposição para ver) que grande parte da Costa da Caparica está abaixo do nível do mar.
- Safa-se a costa a partir daí porque, curiosamente, não existem pontões e existe alguma reposição de areia durante a Primavera e Verão. Mas que deverá ser insuficiente para manter as praias no futuro. Com a pressão existente (planos Polis e quejandos) é provável que consigamos fazer com que a praia desapareça de vez e se arrume definitivamente o problema! (Querem praias e férias seus calinas? Ainda por cima ao pé de casa? Vão para Espanha seus malandros!).
O que se vive hoje na Caparica apenas reflecte a veleidade com que ao longo da História se tratam as alterações nas orlas costeiras e no nosso país não são, infelizmente, caso único. O mais grave é que neste momento já não podemos alegar ignorância. E continuamos a dar mais importância ao impacto económico (o dinheirinho, o lucro fácil, a riqueza) do que ao impacto ambiental (custa ao estado o que significa que ainda por cima é a repartir por todos).
Até porque, na zona em questão, adquirida por uma construtora há já alguns anos, tem vindo a decorrer uma acção de desflorestação (basta ir lá e ver) e criação de condições para empilhar tijolos agarrados com cimento e ferro, janelas, portas, casas de banho, circuito de vídeo porteiro, musica em todas as divisões, ar condicionado ou aquecimento central, jardins (ou talvez não), garagens, estradas, enfim, o costume. Podes crer que ainda vêm pedir uma indemnização ao estado…
Quanto à desmatação da costa para criação de parques de estacionamento e florestas de betão, só um alerta: são as acácias, os pinheiros, enfim, é a vegetação que permite segurar as areias e a criação de condições para que as praias se mantenham como, ainda, estão (O D. Diniz, o tal do pinhal, era um sábio).